A verdade é que me apeteceu. E depois de me apetecer, fiz. Sempre acompanhada da mesma questão, sempre com a mesma dúvida, sempre a perguntar-me porquê?, e logo uma coisa qualquer, por detrás da cortina transparente da janela, e porque não? Seria uma voz, ainda que não se ouvisse? Não. Era, muito provavelmente, só uma coisa qualquer que não sabia o que dizia. Ainda assim, segui-a. Se é para ficar, para alimentá-lo todos os dias na tentativa de crer que algo válido, se é para o encher com reflexões que valham a pena, ainda não decidi. A verdade é que me apeteceu e fiz. Não sei porquê, nem porque não, mas curiosamente esse facto não é inquietante e, arrisco confessar, confere-me até uma sórdida liberdade. Veremos...
Por dulce surgy

Dissertação botânica

São como folhas, as gentes.

Pendem-se em aglomerados mais ou menos
extensos, admitindo posições hierárquicas
calhadas em sorte pelo lado do tronco em que nascem.
Embora pareça, não migram, são quase estáticas, tirando,
talvez, alguma agitação provocada
pelos ventos vespertinos e por chuvas outonais.
A maior parte serve de alimento a animais famintos,
outras há, porém, que são abrigo, albergue de vida,
bálsamos multicolores.

São como folhas, as gentes.

Umas amarelecem e caiem, esquecidas,
sob o solo que as absorve. Contudo, algumas,
poucas, são perenes. Ficam,
ainda que no rigoroso inverno nevado.
Ficam, pintando de verde as longas
tardes cinzentas melancólicas.
Ficam, ficam.
Anos, longos anos, inventando, para nós,
um renovado conceito temporal.

1 comentário:

MU disse...

gosto muito!

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