A verdade é que me apeteceu. E depois de me apetecer, fiz. Sempre acompanhada da mesma questão, sempre com a mesma dúvida, sempre a perguntar-me porquê?, e logo uma coisa qualquer, por detrás da cortina transparente da janela, e porque não? Seria uma voz, ainda que não se ouvisse? Não. Era, muito provavelmente, só uma coisa qualquer que não sabia o que dizia. Ainda assim, segui-a. Se é para ficar, para alimentá-lo todos os dias na tentativa de crer que algo válido, se é para o encher com reflexões que valham a pena, ainda não decidi. A verdade é que me apeteceu e fiz. Não sei porquê, nem porque não, mas curiosamente esse facto não é inquietante e, arrisco confessar, confere-me até uma sórdida liberdade. Veremos...
Por dulce surgy

Desejo

Ai,
Como queria ser um poema de Pessoa
Em que tudo é naturalmente
belo
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaasem esforço
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaacaído do fundo da alma
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaacomo uma folha solta no Outono
aaaaaaaaaaaaaaasem que se dê por isso,
aaaaaaaaaaaaaaatão natural é o seu estado maturo
aaaaaaaaaaaaaaaque nada espanta que se solte do tronco
aaaaaaaaaaaaaaae flutue vagarosamente até ao toque.

Mas olha-me
Vês
aaaaa imperfeição das vírgulas?
aaaaos ângulos rectos?
aaaaos conflitos?

Olha-me
Que vês?

Um puzzle inacabado, sem todas as letras.

aaaaQueria ser um poema de Pessoa como aquele que li hoje
aaaasimples,
aaaabelo,
aaaaperfeito,
aaaasimples,
aaaasimples.

Mas
Olha-me
Vês?


Tentativa
aaaaaaaaaErro
Tentativa
aaaaaaaaaErro

aaaaaaaaaaaaaaSuposição

aaaaaaaaaaaaaaApenas suposição

De súbito

O mais dentro em mim,
aquele bocado onde se esconde a verdade,
descobri-o há pouco. Semanas ou seria há minutos? Segundos.

Ia assim desacautelada, pontapeando despreocupadamente
uma pedrinha na calçada, assobiando baixinho acordes improvisados, e nisto
um murmúrio a fazer-se ouvir
devagar de início
ao longe
vago
como uma nascente cristalina perdida numa selva densa. E era isso mesmo,
um fio de água
discreto
dissipado entre rochedos e vegetação, a correr calmamente,
um fiozinho miúdo mas constante
a elevar-se só um pouquinho no ar antes de transbordar o meu chão.

Com os pés descalços, inundei-me dele,
desse mais dentro de mim,
desse bocado onde sou eu de verdade.

E é só aqui que quero ficar.

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