A verdade é que me apeteceu. E depois de me apetecer, fiz. Sempre acompanhada da mesma questão, sempre com a mesma dúvida, sempre a perguntar-me porquê?, e logo uma coisa qualquer, por detrás da cortina transparente da janela, e porque não? Seria uma voz, ainda que não se ouvisse? Não. Era, muito provavelmente, só uma coisa qualquer que não sabia o que dizia. Ainda assim, segui-a. Se é para ficar, para alimentá-lo todos os dias na tentativa de crer que algo válido, se é para o encher com reflexões que valham a pena, ainda não decidi. A verdade é que me apeteceu e fiz. Não sei porquê, nem porque não, mas curiosamente esse facto não é inquietante e, arrisco confessar, confere-me até uma sórdida liberdade. Veremos...
Por dulce surgy

Para sempre

Transportava a vida toda no regaço e tropecei numa ribeira de águas revoltas que me arrastaram e conforme me arrastaram a vida espalhada pelo chão, coisas soltas rebolando e eu, de joelhos numa aflição a tentar juntá-las num monte para as guardar, não nos bolsos desta vez, num baú de sótão, daqueles que resistem aos anos e ao esquecimento. Por isso, eu agora sentada no chão mirando despojos, a inquietar ao acaso o entulho, isto guardo, isto não guardo, a compor a arca das melhores relíquias, a fazer da minha lembrança uma coisa boa. Retiro do chão, do meio desses cacos avulsos, o embalo da brisa do mar, um abraço forte, a tua mão entrelaçada na minha. E é isso que guardo. Tu um dia a encontrares tal velharia, a revirares de um lado e doutro, a murmurares sem que te lembres, que coisa esta, mas essas coisas lá, aguardando a tua volta, arrecadadas dentro de um baú velho e também dentro do meu coração.

1 comentário:

MU disse...

gosto muito e ainda mais :D

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