A verdade é que me apeteceu. E depois de me apetecer, fiz. Sempre acompanhada da mesma questão, sempre com a mesma dúvida, sempre a perguntar-me porquê?, e logo uma coisa qualquer, por detrás da cortina transparente da janela, e porque não? Seria uma voz, ainda que não se ouvisse? Não. Era, muito provavelmente, só uma coisa qualquer que não sabia o que dizia. Ainda assim, segui-a. Se é para ficar, para alimentá-lo todos os dias na tentativa de crer que algo válido, se é para o encher com reflexões que valham a pena, ainda não decidi. A verdade é que me apeteceu e fiz. Não sei porquê, nem porque não, mas curiosamente esse facto não é inquietante e, arrisco confessar, confere-me até uma sórdida liberdade. Veremos...
Por dulce surgy

Agora

No processo em que as coisas se renovam, por vezes, braços e dedos ávidos, fluidos como água, engolem o corpo. Puxam para trás, recuam-nos. Fazem-nos, não sei porquê, voltar, como se tivéssemos esquecido qualquer coisa ao sair de casa, uma luz acesa, um fio de água numa torneira, mas não, regressamos e tudo afinal igual. Pergunto-me porque voltamos atrás e não há resposta, tudo na mesma, e contudo uma perna a querer fechar a porta e a outra do lado de cá a inventar uma torradeira que se deixou ligada, a alinhar uma almofada fora de sítio, e nisto anos e anos perdidos, sem qualquer significado, todas as coisas desses anos apagadas e nós, pasmados, Aqui outra vez?.
No entanto, há dias, momentos, segundos, em que o renascimento não dói. Já não dedos esquálidos a assustar no virar dos dias. Apenas mãos que se estendem, que confortam, que nos mostram, sem que pedíssemos, o caminho. Coisas e coisas que se movem devagar, vozes que nos chamam baixinho. E nós, tacteando no vazio e ainda assim confiantes, avançamos.

1 comentário:

nêta disse...

Anos e anos perdidos mas o pior nem é "aqui outra vez", mas "aqui ainda".
Felizmente tu, confiante, avanças.
Bj grande

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